sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

À Meia-Luz.


Ontem eu assisti a minissérie Amor em Quatro Atos, com músicas de Chico Buarque. O episódio foi da música Folhetim, do Chico, que fala das mulheres da vida, ou melhor, prostitutas. Isso me lembra a boêmia aqui do meu bairro, no Cocotá, na Ilha do Governador, Rio de Janeiro, perto da Região Serrana, onde eu cresci e vivi e onde está também acontecendo esse desastre, em Petrópolis, Teresópolis e Friburgo. Voltando ao assunto de hoje, a boêmia daqui da Ilha do Governador é intensa, perigosa e imensamente pura, e não é tão pura assim. Estava assistindo a minissérie quando eu me lembrei de tudo, das ruas aqui de noite, quase madrugada. Me lembrei das casas de prostituição, cabarés, restaurantes fechados, pizzaria fechada, comércio fechado, e somente um barzinho mesquinho aberto. E nesse bar os mais sujos não se escapam de si mesmos. Em cima desse bar existe um cabaré, fajuto, com muitas mulheres da vida. Uma até eu conheço de vista. Mais um pouco a frente existe um parque, um aterro que fizeram aqui, a algum tempo. O aterro do Cocotá, onde tem as barcas, que me levam do Cocotá ao Centro da cidade, do Cocotá a Paquetá, do Cocotá a Niterói. E nesse caminho não muito longo existem tantas coisas... Primeiro, o que eu vejo no chão são mendigos dormindo, muita sujeira, muitos pivetes, muita sujeira mesmo. Mas a única coisa que me impressiona na noite do meu bairro são os vira-latas, aqueles cães maravilhosos que amam no meio das ruas, que dormem no meio das ruas, que são nômades de si mesmos. Eu amo cachorro, qualquer raça, tenho três cadelas: Vicky, uma chow-chow, Tutty, um labrador mestiço e Lillo, uma fox-americana. Amo todas, são como se fosse umas filhas pra mim. Porém os vira-latas são mais poetas, tem estilo de boêmios, amam no meio das ruas sem se preocupar com nada, comem de tudo, o que tiver eles traçam. E tudo o que eles querem realmente é viver em paz, e amar, acima de tudo. Isso me impressiona demais. Sou fã assumido desses seres magníficos, que moram cada dia em um lugar, que amam no meio das ruas. Mais a frente do caminho, vejo a estação das barcas. No relógio marca três horas da manhã. O que me deixa triste é que tudo o que era agitado, feliz e limpo na manhã, tarde e começo da noite virou sujeira, virou porcaria, virou cabaré, tudo mudou. E o que me impressiona é que, as sete da manhã, tudo volta ao normal. E até as onze da noite tudo aquilo não passa mais do que um bairro com alguns bares e restaurantes abertos. A partir daí é tudo sujeira, poluição. E no dia seguinte tudo volta ao normal. A sujeira acaba, tudo acaba. E é sempre assim. 

4 comentários:

  1. Também sou fã das músicas de Chico Buarque, embora não tenha assistido a minissérie, quanto ao restante do texto, bem interessante, bem construido e com palavras bem escolhidas. Gostei muito da imagem que introduz o texto. Ela traduz de uma forma peculiar e que beira o subjetivo aquilo que diz o texto!
    Um abraço!

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  2. Não sou muito fã do chico mais me rendo algumas musicas dele... Cara que bela imagem é essa no inicio do post, perfeita... Abrçs

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  3. também não curto muito as músicas do chico e nao assisti a minisserie, mas seu texto tá realmente muito bom, muito bem redigido!
    parabéns!
    beeijos ;*

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  4. Eu gosto do Chico Buarque. Não assisti a série, mas depois vou procurar no youtube. Sempre têm. Também adoro cachorros, adotei uma vira-lata de rua, faz uns 5 meses. :D

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